Quem o conhece diz que tem uma grande força de vontade. Por detrás do seu estilo reservado, quase tímido, esconde-se um jovem de 16 anos que já se sagrou por duas vezes campeão nacional de Judo. Igor Sampaio é assim. Aos seis anos de idade chegou à Gualdim Pais, pela mão dos seus pais, abraçou o judo desde cedo e não mais largou a modalidade. “O judo sempre foi para mim uma grande paixão”, aponta Igor. Mas se nos tempos primórdios a modalidade era encarada pelo judoca como uma forma de passar o tempo, certo é que quando o jovem dobrou os 13 anos de idade essa “paixão” ganhou outra amplitude. “Participar em campeonatos nacionais, que dão acesso a outras provas internacionais, é muito aliciante”, justifica.Treinado pelo mestre Manuel Francisquinho, da Gualdim Pais, o esforço e dedicação do jovem tomarense começaram desde cedo a surtir efeito e os primeiros resultados surgiram em torneios zonais. Em 2005, Igor Sampaio alcançou o seu primeiro grande triunfo nacional. O jovem, então com 14 anos, sagrou-se campeão de juvenis, em Pinhal Novo. “Foi uma alegria muito grande”, explicava o judoca na altura a “O Templário”.O triunfo deixava a entender que poderia nascer ali um judoca promissor, tanto mais porque 12 meses depois Igor Sampaio revalidava o título nacional, desta vez na categoria de Esperanças. A sua vida, tal como hoje, era dividida entre escola, treinos, estágios, torneios e família.Só que, em Agosto de 2006, dá-se o ponto de viragem e maior adversário de Igor até à data surge na sua vida, mantendo uma luta até hoje que o jovem não quer perder: foi-lhe detectada artrite ideopática juvenil poliarticular, uma doença crónica, que varia de artrite e que limita as articulações do corpo.
“Igor tinha dificuldade em movimentar-se” A primeira forma de expressão da doença deu-se durante um estágio em Coimbra. “No último dia tive de ser ajudado pelos colegas para entrar e sair da carrinha”, recorda Igor.Na altura, todavia, as dores, junto à zona lombar da perna, foram associadas a uma eventual lesão muscular. Teresa e João Sampaio, pais de Igor, recorreram, por isso, aos serviços de um fisioterapeuta, Tita, bem como ao médico da Federação Portuguesa de Judo, Jacob Frischknecht - irmão de um antigo campeão olímpico de natação.Mas com o avançar do tempo as dores não desapareciam, surgindo nova mazela junto ao tornozelo. De tal forma que durante cinco meses Igor Sampaio teve que recorrer ao uso de canadianas. “Ele tinha, de facto, muita dificuldade em levantar-se e movimentar-se”, recorda a mãe.Alertados pelo fisioterapeuta, em Tomar, para o facto de se tratar de algo mais do que uma simples lesão, os pais de Igor recorreram, paralelamente, a outros especialistas. E foi em Lisboa, através do reumatologista Melo Gomes, que o problema foi detectado, após a realização de uma cintigrafia óssea, ao nível molecular. “Tivemos a sorte de ter frequentado bons médicos. Certas alturas pensávamos que poderia ser pior, principalmente quando ele andava de muletas, sem força!”, comenta Teresa Sampaio.Entretanto, a vida de Igor Sampaio tinha sofrido algumas alterações. Na altura, frequentava o 10º ano de escolaridade, na Escola Secundária Santa Maria do Olival, em Tomar. Não raras vezes tinha de faltar às aulas para efectuar exames médicos em Lisboa.
Terceiro lugar com sabor a vitória Também a prática desportiva sofreu alterações. Durante seis meses esteve sem poder treinar. “Ao mesmo tempo que notávamos o sofrimento dele, víamos a sua vontade em participar nos treinos”, revela Teresa Sampaio.Com a aproximar de um novo campeonato nacional, o judoca da Gualdim Pais via o tempo passar sem poder preparar-se convenientemente para alcançar o seu terceiro título consecutivo. “Foi o fisioterapeuta Tita que me possibilitou ir ao campeonato. O mestre Manuel Francisquinho também me deu muita motivação. Tenho que lhes agradecer a minha participação”, afirma.A preparação para a prova, em 2007, resumiu-se a uma semana “de treinos limitados”. O terceiro lugar averbado em Lisboa teve, por isso, um sabor a vitória. “Fiquei muito satisfeito apesar de tudo”, desabafa Igor Sampaio.Mas a nível desportivo o resultado que mais se orgulha “nos últimos tempos” foi o segundo lugar averbado no Campeonato Nacional por Equipas. A Gualdim Pais estava representada por Igor Sampaio, Guilherme Ruela, André Silva e Dinis Nunes. “As equipas eram de cinco elementos e nós éramos apenas quatro. Entrávamos sempre em desvantagem e mesmo assim chegámos à final”, comenta.“Gosto demasiado da modalidade para desistir”, afirma o jovem que tem nos seus companheiros, amigos de infância.Para se adaptar a treinos e provas, Igor tem agora calções térmicos que aquecem os músculos e permitem treinar melhor.Entretanto, o seu tratamento vai entrar na terceira fase, que terá duração de um ano e que será desenvolvido numa fase inicial no hospital D. Estefânia, em Lisboa e concluído no hospital de Tomar. Para trás vai deixar a actual medicação, que aos sábados correspondem a 13 comprimidos.Em casa todos estão optimistas quanto à recuperação e Igor até já pensa em voltar a alcançar conquistas importantes. Primeiro, reconhece, o “mais importante é recuperar fisicamente”. Igor Sampaio está agora na categoria de juniores e no Verão passado passou a cinturão negro. “Vou aos torneios sempre para fazer o meu melhor. Espero ainda ser outra vez campeão nacional”, acrescenta.
Treinar e apitar são opções O judoca aproveitou ainda o ano de 2007 para tirar um curso de juiz. “Se algum dia tiver que deixar de lutar, posso manter-me ligado à modalidade”, admite. Ser mestre de judo parece ser também um objectivo, mas a longo prazo.Também a nível escolar, o jovem tem objectivos que quer cumprir a curto prazo. “Gostava de tirar um curso de design industrial, numa cidade onde possa também praticar judo”, refere.Igor Sampaio convive com uma doença crónica, mas essa, garante, não é razão para desistir. A sua força de vontade leva-o a treinar regularmente de forma a participar em torneios para ganhar. Os campeões são assim!
(© Jornal O Templário, em 22-01-2008, por Jornal O Templário)
